Comunidade Quilombola Namastê de Ubá: Mais de 200 anos de invisibilidade!

“Também, na Semana do 20 de Novembro há eventos que abarcam a situação do racismo no país, mas sem diretamente discutir a situação de racismo na região.” 

Esta fala está em um dos trabalhos acadêmicos realizados na comunidade, que estamos estudando, e refere-se ao poder publico municipal.

Comunidade Quilombola Namastê.


Durante este ano de 2023 o grupo da Pastoral Operária do Bairro da Luz e Agroceres elegeu como prioridade o estudo em busca do conhecimento e entendimento sobre o funcionamento da Comunidade Quilombola existente na localidade - Comunidade Quilombola Namastê.

 

No planejamento realizado em 2021, durante ainda o fica em casa da Pandemia da COVID 19, a Pastoral Operária entendeu que a existência da comunidade quilombola reconhecida pode vir a ser uma “oportunidade” para enfrentar os problemas vividos pela classe trabalhadora na região. 


A Comunidade Quilombola Namastê é reconhecida como Remanescente de Quilombo. Considerando que a comunidade é reconhecida pela Fundação Palmares através da portaria número 185 de 19/11/2009 como sendo uma comunidade remanescente de quilombo. Considerando que este tema tem implicações positivas na vida das pessoas, e não é de conhecimento da maioria dos moradores da região. O grupo decidiu estudar este realidade durante o ano. Após vai organizar atividades, principalmente com a juventude, para construir as melhores formas/meios para dialogar com a comunidade sobre a certificação e suas repercussões nas políticas públicas.


Ano de 2022 


Realizamos diversas reuniões quando foi possível organizar materiais sobre a realidade da comunidade. 


Criamos o Boletim - Pega a Visão que resume os nossos estudos. 


Pega Visão nº 06 - Veja o Boletim Aqui


Pega Visão nº 07 - Veja o Boletim Aqui

Na primeira reunião nos chamou a atenção os ANOS INICIAIS da escola Especializada Quilombola  Governador Valadares: Nós, Agentes da Pastoral Operária, concluímos que os desafios são maiores quando se trata dos anos iniciais. Em função da sua vocação de escola de atendimento ao território quilombola, os anos iniciais da Escola Estadual Governador Valadares foram mantidos, ou seja, não foram municipalizados. Todavia, a prefeitura de Ubá resolveu transferir a Escola Vovó Maria das Dores (anos Iniciais) para longe do território Quilombola, ou seja, para outro bairro. Ao mesmo tempo, a Prefeitura tem estimulado as matrículas nos anos iniciais na escola "distante". O baixo número de matrículas, nos anos iniciais, na Escola Governador Valadares é uma preocupação quanto à integralidade do projeto de Escola Especializada no atendimento ao território Quilombola.

A Invisibilidade 

Ainda estamos na fase inicial do estudo, considerando que iniciamos em julho de 2023. Separamos dois trabalhos acadêmicos que que nos ajudam a compreender a invisibilidade comunidade quilombola. 

1º - Histórias de vidas, lideranças, lutas e espiritualidade de Maria Luiza Marcelino (Ubá/MG)  - Matheus da Rocha Viana - Brasília, 2020

2º - Lamento do Povo Negro  - O trabalho da memória de uma mestra dos pontos cantados de umbanda na Comunidade Quilombola Namastê - Ubá/MG. - LEONARDO BITTENCOURT SILVA


Um Trabalho ressalta o papel da mestra Maria Luiza Marcelino como historiadora, liderança política, ativista negra, defensora da comunidade quilombola, sacerdote, mensageira de mediunidade múltipla dos guias espirituais, guardiã e ativadora das memórias presentes na comunidade. O trabalho de rememoração permanente no fio de mais de 200 anos contínuos da história desta comunidade negra e invisibilizada, marcada pelos traumas dos processos violentos da escravidão, tem nos pontos cantados do Terreiro Caboclo Pena Branca a materialidade das suas práticas fundamentais de resistência, sociabilidade e espiritualidade. A partir dos escritos e das exegeses da Mestra Maria Luiza sobre a história do povo negro e de seu povo, e da forte relação com os guias ancestrais que formam sua espiritualidade, o lamento emerge como a principal marca dos pontos cantados, atravessando uma história de sofrimento, resistência e consciência histórica.


Continuando, o trabalho fala da presença de Luiza e o incômodo do poder público municipal. A posição que se encontra Luiza faz com que, devido à condição de urbanização do território quilombola, seu impacto seja maior do que somente sua comunidade, atingindo, influenciando e abrigando também a população não quilombola de Ubá. Sim, é fato que as tentativas de apagamento histórico da existência da comunidade e do terreiro de Luiza têm obtido sucesso, já que parte (majoritária) da própria população negra não-quilombola da cidade não tem conhecimento sobre sua existência. Porém, Luiza também tem o cuidado para que não sejam todos que saibam sobre ela. Mesmo em tentativas de estrangulamento social e de apagamento de sua existência e permanência na região, a prefeitura continua, junto à secretaria de cultura, a promover encontros entre a população e a comunidade quilombola em fóruns de promoção de igualdade racial, entrega de prêmios concedidos à Luiza e sua comunidade pelo Estado de MG. Também, na Semana do 20 de Novembro há eventos que abarcam a situação do racismo no país, mas sem diretamente discutir a situação de racismo na região.


Uma das conclusões do trabalho: A questão é que: há a necessidade de se fazer uso da imagem de Luiza para promoção da instituição pública, porém, somente até certo ponto, uma vez que as faces abordadas ali são somente de uma mulher negra e quilombola, não da mãe-de-santo, essa falsa promoção de cultura negra cria então uma cortina de fumaça que torna dúbia a palavra de Luiza com relação às práticas da prefeitura contra sua comunidade. Parte dessa relação entre Luiza e o poder público se evidencia nesse trecho de uma das entrevistas feitas em campo.


A gente quer ser tratado como gente! Não animais em corpo de gente... pode perguntar pra cada descendente de escravo, a gente não quer dinheiro, quer ter uma vida digna, ter um pedaço de terra pra sobreviver! A luta dos escravos é pela sobrevivência, não pra ficar rico… (entrevista com Luiza) Contudo, essa visão que o poder público tem da Mestra quilombola não está somente na esfera de racismo, mas na provocação dela em não aceitar a parte do acordo como um todo. Por diversas vezes ela afirma que não quer que a comunidade seja como o Congado, que não quer o tipo de relação que o grupo tem com Secretaria de Cultura e a Prefeitura da cidade de Ubá e por isso, acaba por colocar limites nas ―negociações (que não deveriam existir) com o poder público da cidade, como ela mesma afirma:


―não puxo-saco, não sou pessoa de puxar saco, não sou pessoa de dobrar pra ninguém

não abaixo a crina pra ninguém... eu sou tudo que incomoda.


No link você pode ouvir uma entrevista em formato de Podcasts  sobre o trabalho acadêmico Matheus da Rocha Viana - Brasília, 2020.





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