O protesto do coletor
A reintrodução dos tambores de lixo
nas ruas e avenidas de Ubá é um retrocesso assustador. Em 2011 foi introduzido
na cidade a coleta conteinerizada porque é desumano submeter os coletores ao
esforço de levantar tambores de 200 litros lotados de terra, concreto e
escombros de obras. A proposta da coleta conteinerizada, se continuada e
aperfeiçoada nas administrações seguintes, conduziria este processo de trabalho
a um certo grau automatização. Todavia o que assistimos é um retrocesso à era
do tambor patrocinado e da lixeira subterrânea que estimulam o aterramento do
lixo em oposição à coleta seletiva.
Estagnaram também a implantação dos transbordos (locais para o descarte dos materiais recolhidos
pelos carroceiros), que já deveriam estar implantados em outras regiões da
cidade.
O ato do coletor de não recolher o concreto e virar o TAMBOR para externar a insatisfação da categoria
com este processo de trabalho sub-humano, quando vivenciam o sofrimento de levantar os latões de 200 litros lotados de concreto, por repetidas vezes, durante longos períodos diurnos ou noturnos, encontra amparado, provavelmente, nas normas de segurança do trabalho. É possível e necessário refletir este ato também a partir das perspectivas de uso inadequado do dinheiro público por parte dos “gestores” uma vez que o contribuinte paga cerca de 900 mil reais por ano para a manutenção dos contêineres.Em 2019 Ubá gastou 13.309.746,44 (treze milhões, trezentos e nove mil, setecentos e quarenta e seis reais e quarenta e quatro centavos) com a limpeza da cidade. Mais de um milhão e cem mil reais por mês só com a retirada do lixo das ruas e transporte até a estação de transbordo na região do Quebra Coco.
A planilha anexa descreve a quantidade de serviço prestado e os valores máximos pagos a cada um. Vale observar que são gastos quase 900.000,00 (novecentos mil Reais) com a manutenção dos contêineres. Este outro mapa mostra a localização dos contêineres. A pergunta é: Com este investimento haveria necessidade de substituição dos contentores por latões patrocinados. Sobre um possível desvio de finalidade da Empresa autorizado pelos gestores eu já havia publicado um texto “Varal de Lixo: O retorno!” No período do carnaval 2019, quando foi amplamente divulgada uma notícias que os dirigentes de Escolas de Samba e blocos de Ubá foram ao Rio de Janeiro buscar fantasias, em preparação ao carnaval 2020, em caminhão da empresa de Limpeza Pública.
Em 2018 o município contratou Empresa no valor de R$1.890.000,00 (Hum milhão, e oitocentos de noventa mil reais) para prestar serviços à Prefeitura, no recebimento e destinação final adequada dos resíduos sólidos urbanos coletados nas atividades de limpeza pública. São mais R$ 157.275.00 mensais para enterrar duas mil quinhentas e cinquenta toneladas de lixo mês ao custo de 69,90 a tonelada. Continuando a reflexão sob o enfoque do uso inadequado do dinheiro público, além desse gasto dos mais de 13 milhões de Reais com a retirada do lixo das ruas é preciso acrescentar o recurso gasto com a destinação final. Antes é necessário reconhecer que após 2011, Ubá passou a frequentar um grupo seleto de municípios mineiros que dão destinação final adequada do lixo coletado. A grande maioria ainda despeja os resíduos sólidos em lixões ou aterros irregulares.
Chamo a atenção para mais alguns pormenores, que engrandecem o ato de protesto e cidadania externado pelo coletor naquela madrugada. Ele percebeu que além da sua coluna e seus joelhos que estão sendo ferrados com peso do tambor, o dinheiro do contribuinte ubaense também estava transferindo-se para o bolso das empreiteiras. O coletor sabe que o contribuinte está pagando para transportar e aterrar concreto e escombro de obra em aterro licenciado. Em 2018 foram 2.550 toneladas mês ao valor de 69,90 reais a tonelada. Mas em 2011, num momento de grande crescimento econômico, Ubá produzia 1.500 toneladas de lixo por dia e pagava 59,30 por tonelada de lixo enterrado. R$1.067.400,00 (um milhão, sessenta e sete mil e quatrocentos reais) por 12 doze meses. Em 2013 subimos para 2. 000 toneladas mês ao valor de R$1.578.000,00 e valor aproximado de R$ 65,75 a tonelada. A constatação principal é que entre 2011 e 2018 aumentamos a produção de lixo em 70% em momento de encolhimento da economia e baixo no consumo. A pergunta que se faz é se estamos pagando para enterrar o lixo ou concreto. Também tivemos um acréscimo considerável de 17,8% no valor da tonelada neste período.
O município está atualizando o seu Plano Municipal de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos. O plano foi feito pela primeira vez em 2011 e deve ser atualizado de 4 em 4 anos, de preferência com a participação popular, mas em função da pandemia estão passando a boiada. Serão investidos R$ 462.632,73 (Quatrocentos e sessenta e dois mil, seiscentos e trinta e dois reais e setenta e três centavos) incluído consultorias do Comitê de Bacia Hidrográfica do Rio Paraíba do Sul.
A verdade é que estamos enfrentando um retrocesso na
Política Municipal de Limpeza Pública, não por falta de plano e muito menos de
recursos, mas por falta de compromisso com a população. Descontinuaram projetos importantes como o da coleta ponto a
ponto, da rede de catadores cidadãos e a própria coleta seletiva que era realizada
exemplarmente tendo como sujeitos do processo, os recicladores. O Prefeito
Édson prometeu na campanha de 2016 que construiria um novo aterro sanitário em
Ubá, mas nunca mais tocou no assunto. Cidade suja, retrocesso com a
reintrodução dos latões, bueiros entupidos causando alagamentos e aumento do
volume de lixo proporcionado descarte irregular de concreto e escombros de
obras . É isto que temos para os próximos 04 anos. "Se calarem a voz dos profetas as pedras clamarão." - Que Deus abençoe
e proteja a coluna, os joelhos e a coragem do coletor.