Lideranças analisam a realidade dos trabalhadores em Ubá neste primeiro de maio.

A Pastoral Operária é uma pastoral social da Comissão Episcopal para o Serviço da Caridade, da Justiça e da Paz da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Atua no seio da classe trabalhadora com o objetivo de evangelização e reflexão sobre a vida dos trabalhadores/as à luz da Doutrina Social da Igreja Católica.

O Grupo de Base do Bairro da Luz e Agroceres foi criado em 1986, e está completando 39 anos. Anualmente o grupo organiza a celebração do Dia Internacional da Classe Trabalhadora, primeiro de maio. O dia dos trabalhadores foi criado em 1889, por um congresso socialista realizado em Paris. A data foi escolhida em homenagem à greve geral que aconteceu em 1º de maio de 1886 em Chicago, o principal centro industrial dos Estados Unidos naquela época. Milhares de trabalhadores/as foram às ruas protestar contra as condições de trabalho desumanas a que eram submetidos e exigir a redução da jornada de trabalho de 13 para 8 horas diárias. A repressão foi dura: houve prisões, feridos e até morte. Em memória dos Mártires de Chicago, das reivindicações operárias de 1886, que o primeiro de maio foi instituído como Dia Mundial da Trabalhadora e do Trabalhador.

Na preparação do Primeiro de Maio de 2025, nós convidamos algumas lideranças de Ubá para contribuírem com a leitura da realidade dos trabalhadores(as) de Ubá e região. Utilizando de uma ferramenta Google Drive (formulários google) quatro perguntas sobre o mundo do trabalho foram enviadas e respondidas. Vajamos às respostas com breve aprofundamento à Luz da Doutrina Social da Igreja.

Pergunta nº 1 - Qual a realidade dos trabalhadores e trabalhadoras em Ubá em abril de 2025?

Respostas: A realidade dos trabalhadores de Ubá não difere da situação do Brasil, em que são submetidos a condições degradantes de trabalho, carga horária excessiva e baixa remuneração. Ubá apresenta um crescimento das atividades informais, em face das mudanças do mundo do trabalho afetadas pela economia, globalização, terceirização, revolução tecnológica e reformas trabalhistas.

- Apesar do crescimento da taxa de emprego, há pouca participação do trabalhador nas questões trabalhistas e é expressiva a precariedade, a exploração, baixa renda e pouco investimento em capacitação e segurança. A reforma trabalhista flexibilizou as regras de proteção ao trabalhador e a CLT é insuficiente para responder às diferentes formas de trabalho.

- Acredito que trabalhadores e trabalhadoras precisam ser tratados como gente e não como objetos. Os trabalhadores e trabalhadoras de Ubá MG, trabalham muito, e na sua maioria são mal remunerados.

- Os trabalhadores não são muitos conscientes de seus direitos... Por exemplo, não estão engajados na votação sobre a escala 6X1 - Não entendem que isso afeta sua realidade.

- Percebo uma virada de jogo. Empresas desesperadas atrás de trabalhadores e trabalhadoras. Existe neste momento um encerramento na renda, mas ainda é cedo para comemorar, pelo contrário é preciso entender o momento e avançar na valorização do trabalho

Esticando a Conversa: O Papa Francisco escreveu na Encíclica (Laudato Si) que estava preocupado com o tratamento que os trabalhadores vêm recebendo mundo afora atualmente. Ele trabalhou para colocar novamente a realidade dos trabalhadores na vida e na preocupação da Igreja.

Segundo o Papa Francisco um dos pilares do capitalismo é a exploração do trabalho, o esgotamento dos recursos do planeta.

“O desemprego, a informalidade e a falta de direitos trabalhistas não são inevitáveis, são o resultado de uma prévia opção social, de um sistema econômico que põe os benefícios acima do homem”). O capitalismo, pois, não é amigo dos trabalhadores.

“Economia que Mata” (EG 53).

Na Encíclica Evangelii Gaudium, o Papa Francisco denunciou as desigualdades sociais como um gravíssimo problema da atualidade. E busca as origens dessas desigualdades na economia, mais precisamente nessa “economia da exclusão e da desigualdade social”, essa mesma “economia que mata” (EG 53).

O Papa Francisco diz também que “a exploração do trabalho configura-se como uma das principais causas da desigualdade e da exclusão social. E que não existe pior pobreza material do que aquela que não permite que se ganhe o pão e priva da dignidade do trabalho”

Há, pois, algo pior do que não ser “explorado”; é ser excluído, ser resíduo, ser “sobra”, “descartável” (EG 53)

O Papa Francisco acrescenta que “há, pois, algo pior do que não ser “explorado”; é ser excluído, ser resíduo, ser “sobra”, “descartável” (EG 53). Esse descarte se exprime de variadas maneiras, “como na obsessão por reduzir os custos trabalhistas sem se dar conta das graves consequências que isso provoca, pois o desemprego daí resultante tem como efeito direto o alargamento das fronteiras da pobreza” (Encíclica Fratelli Tutti 20).

_ “Acredito que trabalhadores e trabalhadoras precisam ser tratados como gente e não como objetos”. Percepção de um companheiro de Ubá.

O Papa Francisco também manifestou com firmeza que o trabalhador não pode ser tratado como objeto: retomando o ensinamento de João Paulo II expresso na Laborem Exercens. O trabalho não é apenas um meio para garantir a sobrevivência biológica de quem o executa, ou de dar vazão a todos os desejos de consumo, mas é uma parte essencial da existência.

O Papa Francisco, atualizou um princípio central do Concílio Vaticano II: “O ser humano é o autor, o centro e fim de toda a vida econômico-social” (GS 63). E não pode ser transformado em puro meio de produção. Pelo contrário, toda a realidade econômica deve estar subordinada ao homem e em vista de promover e manter a vida.

“A finalidade fundamental desta produção não é o mero aumento dos produtos, nem o lucro ou a dominação, mas o serviço do homem e do homem completo” (GS 64).

“A Doutrina Social da Igreja sempre considerou o trabalho humano como uma participação na criação que continua a cada dia, também graças às mãos, à mente e ao coração dos trabalhadores.

Na terra há poucas alegrias maiores do que aquela que experimentamos trabalhando, da mesma forma que há poucas dores maiores do que as dores do trabalho quando explora, esmaga, humilha e mata” (Papa Francisco)”.

Trabalho e Emprego: E o trabalho virou sinônimo de emprego. No contexto do capitalismo industrial, que forjou uma sociedade salarial, passamos a identificar o trabalho com uma de suas formas históricas específicas, o emprego.

No entanto, ao valorizar dessa maneira o trabalho/emprego, abandonou na invisibilidade uma infinidade de outras formas de trabalho e seus sujeitos (mulheres, trabalhadores na informalidade, em associações, na economia solidária...), que, historicamente, ficaram à mercê de direitos e cuja atividade também era desvalorizada.

No horizonte da teologia do trabalho, o Papa Francisco preconiza que o trabalhador pobre, mesmo deixando de estar empregado, não perde a sua condição de trabalhador, porque se o fizesse perderia sua dignidade humana.

Diz o Papa: “Devemos superar a ideia de que o trabalho de quem cuida de um familiar, ou o de uma mãe em tempo integral, ou o de um voluntário num projeto social que assiste centenas de crianças não é trabalho porque não há salário” (Francisco, 2020a, p. 143).

2 - Quais são as denúncias relacionadas ao mundo do trabalho e a vida dos trabalhadores em Ubá neste primeiro de maio ?

Respostas - Condições hostis de trabalho (ambiente de trabalho com excessiva cobrança, lugares sem segurança e higiene, dificuldade de relacionamento principalmente com os superiores hierárquicos), baixa remuneração, carga horária extenuante.

- Carga horária excessiva, subemprego, insegurança na questão das condições de trabalho, terceirizações com redução de salário, acidentes subnotificados, atividades de Uber, Ifood sem regulamentação e sem obedecer as leis trabalhistas.

- Com a perda do apoio sindical, os trabalhadores ficaram sem proteção. Tendo que discutir com o patrão, os reajustes do seus salários; sendo que quem dão as cartas são os patrões, ou aceitam ou vão embora.

- Questão Salarial - A necessidade de percorrer longas distâncias para chegar ao trabalho. - A falta de conscientização de seus direitos.

- Tenho visto problemas com as terceirizadas. Falta de pagamento

Esticando a conversa: Denúncias sobre os terceirizados da prefeitura de Ubá: Depois de muito tempo em silêncio, os trabalhadores das empreiteiras prestadoras de serviço à prefeitura voltam a manifestar-se por falta de pagamento. Nos primeiros 100 dias da administração atual deparamos com manifestações de trabalhadores terceirizados: “Funcionários da terceirizada que presta serviços na secretaria de agricultura, meio ambiente e mobilidade urbana cruzaram os braços por falta de pagamento por parte da empresa terceirizada AMOPEB . Funcionários afirmam que não voltarão ao trabalho enquanto o pagamento não estiver na conta”. https://www.facebook.com/claudio.oliveira.178276/posts/1028252169187049/

A falta de pagamento gerou reações entre as monitoras da secretaria de educação, que usaram as redes sociais para expressar sua indignação. “Sempre efetuei meu trabalho com excelência e amor. Só que tenho família e trabalho não só por amor, trabalho porque preciso do meu salário no quinto dia útil. E não teremos nem previsão do pagamento?”, desabafou uma educadora em comentário nas redes sociais. https://www.jornalonoticiario.com.br/noticia/4734/monitoras-infantis-seguem-sem-pagamento-em-uba-e-prefeitura-anuncia-medidas-contra-empresa-terceirizada

A prefeitura divulgou nota informando que estava tomando as medidas administrativas. A prática de atrasar salários ,ou não pagar direitos aos trabalhadores não é nova. Uma questão a ser melhor esclarecida é como foi o comportamento destas empresas durante o Governo do Edson Teixeira? Pagava em dia? Ou não pagava mas os trabalhadores não manifestavam por medo da repressão.

Ainda sobre as formas de trabalho precárias é necessário observação também ao setor de saúde ( Atenção Básica) o governo atual herdou uma boa parcela dos servidores contratados por meios da PJ, ou contrato por tempo determinado e contratação por meio de consórcios: Médicos, dentistas, técnico de enfermagem, Agentes de Endemias, Agentes Comunitários de Saúde, Auxiliares de Saúde Bucal etc.

Sobre a distância do Trabalho e os transportes: Duas observações: Desde sempre os serviços de transporte de Ubá não atende as necessidades dos trabalhadores e ficou mais caro nos últimos quatro anos do Prefeito Édson. Viação Ubá: A LEI Nº. 3.591, DE 20 DE ABRIL DE 2007 que Dispõe sobre o serviço público de transporte coletivo e individual de passageiros do Município de Ubá e dá outras providências, na artigo 31º, inciso XXIV, o Parágrafo 4º permite a Visão Ubá implantar a Bilhetagem Eletrônica: “A Concessionária poderá operar com sistema de bilhetagem eletrônica e fiscalizar o seu uso, desde que autorizado pelo Poder Público, de forma a desenvolver mecanismos de repressão ao uso indevido dos cartões e bilhetes, dando o devido tratamento dos casos de infração”.

Imediatamente após a assinatura do contrato em 06 de setembro de 2007, a viação Ubá demitiu todos os seus auxiliares de viagem e delegou aos motoristas a atribuição de receber as passagens.

Em setembro de 2015, a empresa implantou o programa Ubá Integrada que, entre outras coisas, encurtou o trajeto de algumas linhas que ligavam bairros, passando-as, a ligar apenas centro bairro. Um dos benefícios anunciados pela empresa e prefeitura era a implantação da integração através da através da bilhetagem eletrônica. O usuário que saísse do Pires da Luz em direção ao Aeroporto, poderia percorrer o projeto com apenas uma passagem num prazo de 90 minutos. Ou o usuário que sai do Bairro Palmeiras em direção ao Santa Edwiges ou ao Hospital Santa Isabel, mesmo embarcando em duas linhas distintas, também pode viajar com apenas uma passagem de ida, desde que faça o trajeto dentro de 90 minutos.

Não temos avaliação precisa do sistema de integração por meio da bilhetagem eletrônica, até porque a administração do Edson Teixeira gastou dinheiro público com consultoria, mas não divulgou os resultados. Todavia devido ainda a intensa movimentação de dinheiro e longas filas na roleta nos momentos de embarque deduzimos que o sistema não pegou. O que financeiramente não é ruim para empresa. Uma vez que o desdobramento das duas linhas citadas (Pires - Aeroporto e Palmeiras - Santa Edwiges), possibilitou um aumento da passagem em 100% para quem continua viajando neste trajeto sem adquirir o cartão.

Vale ressaltar que diante da omissão do poder público, o empresariado bem como os trabalhadores continuam lançando mão das soluções individuais. Aumenta o número de empresas que contrataram frota de ônibus própria e de trabalhadores com compraram motocicletas. Vale avaliar as estatísticas de acidentes com motocicletas que sobrecarregam o setor de urgência do hospital Santa Isabel, matam e mutilam trabalhadores.

A segunda observação é também sobre possíveis repercussões da decisão do prefeito Edson Teixeira que deixou decidido que irá construir um conjunto de habitação popular na região da localidade Santa Rosa, zona oeste da cidade, longe dos postos de trabalho. Esta prática de lavar os pobres para os extremos pode até libertar do aluguel, mas quando não observado a empregabilidade, escraviza toda a família nas caríssimas passagens. Penso que seria necessário um estudo de viabilidade, com audiências públicas para a definição do modelo de habitação popular para os trabalhadores em Ubá.

Perda do Apoio Sindical: Uma percepção genérica apresentada por um (a) colaborador (a) que respondeu ao questionário, que necessita esticarmos a conversa. Na realidade de Ubá podemos avaliar como exitosos os resultados do Sindicato dos Marceneiros, maior categoria com Sindicato de Base Local. Mesmo que não tenha avançado na representatividade política da classe. O sindicato diante da reforma trabalhista onde o negociado tem o prevalência sobre legislados, além de conseguir manter cláusulas históricas na convenção coletiva, como por exemplo a hora extra realizada aos sábados e domingos em 100%, conseguiu avançar em outras cláusulas, como a licença maternidade de 180 dias. Intervalos para alimentação e descanso durante a jornada. Por outro lado as categorias desorganizadas, sem sindicato, de fato as perdas são maiores. Pode-se dizer que o sindicato dos marceneiros tem surfado bem na tendência atual de judicialização da política e da vida.

Do mesmo modo, ao que parece, o sindicato dos servidores públicos municipais, têm respondido às questões dos associados, considerando a negociação coletiva de 2025, por exemplo, que aconteceu sem problemas aparentes. A linha da judicialização parece ser a principal aposta também desta categoria.

Ainda sobre a Organização Sindical , na encíclica Laudato SI, o Papa Francisco constata que no início deste século XXI, agora sob o domínio do “paradigma tecnocrático” (LS), a realidade do mundo do trabalho mudou substancialmente. E fala de um paradigma tecnocrático que dá sustentação à “cultura do descarte” (LS 20, 43).

Segundo o Papa Francisco, estamos hoje submetidos não mais simplesmente a uma relação patrão-operário, como descrito por Leão XIII na Rerum Novarum, mas ao “paradigma tecnocrático”, muito mais complexo e totalizante. Nossa vida é configurada cada vez mais a partir do “paradigma tecnocrático”, que é um “paradigma homogêneo e unidimensional” (LS 106), que tende a exercer o seu domínio não apenas sobre a natureza e a existência humana (LS 108), mas “também sobre a economia e a política” (LS 109).

- Condições hostis de trabalho (ambiente de trabalho com excessiva cobrança, lugares sem segurança e higiene, dificuldade de relacionamento principalmente com os superiores hierárquicos), baixa remuneração, carga horária extenuante.

Matéria publicada no Portal CLICRDC Os Trabalhadores estão deixando os empregos por vontade própria como nunca antes. Em janeiro de 2025, 37,9% dos desligamentos no mercado formal brasileiro foram pedidos de demissão voluntária. O número é o maior já registrado e representa uma mudança radical na relação do trabalhador com o emprego. Em comparação, em 2020, esse percentual era de 24%, e entre 2013 e 2014, girava em torno de 29% a 30%.

Essa guinada reflete não apenas uma transformação no perfil da força de trabalho, mas também uma insatisfação crescente com os modelos tradicionais de emprego.

Os dados revelam que os mais propensos a pedir demissão são os jovens entre 17 e 24 anos (42%), seguidos por mulheres (40%) e trabalhadores do comércio. Além disso, profissionais com ensino superior completo ou incompleto representam 45% dos pedidos de desligamento.

As razões que empurram os trabalhadores para fora. Entre os motivos mais citados para os pedidos de demissão estão:

Baixa remuneração (32,5%)

Falta de reconhecimento profissional (24,7%)

Problemas éticos na empresa (24,5%)

Adoecimento mental provocado pelo estresse (23%)

Conflitos com chefes imediatos (16,2%)

Jornadas rígidas e falta de flexibilidade (15,7%)

Setores presenciais sentem o impacto da nova postura dos trabalhadores. A mudança de comportamento tem afetado diretamente segmentos que dependem da presença física, como construção civil e alimentação. Restaurantes e obras relatam dificuldade crescente em encontrar e reter mão de obra, especialmente para funções mais braçais e de menor remuneração. Esse esvaziamento é consequência direta de um novo olhar dos brasileiros sobre o trabalho: qualidade de vida e autonomia passaram a ser prioridades absolutas.

3- Qual é a boa Notícia?

Respostas - O aumento da produção gera o aumento de contratação, acarretando ao trabalhador a possibilidade - ainda que restrita - de escolher um local de trabalho que julguem ser melhor

- Aumento dos programas sociais, menor taxa de desemprego dos últimos dez anos, mobilização da sociedade em favor de: fim da jornada 6x1, revogação da reforma sindical, revisão da reforma trabalhista, isenção de IR para até 5.000,00.

- A boa notícia, é que com o presidente Lula, o desemprego vem diminuindo, o salário mínimo é reajustado acima da infração e com isso o dinheiro começa a circular nas mãos de todos.

- A redução do índice de desemprego ainda que os trabalhadores não sejam devidamente valorizados em Ubá há oportunidades de trabalho.

- 2 Proposta do governo Lula de aumento do salário mínimo para R$1.600,00 com a perspectiva de ganho real e aumento do poder de compra dos trabalhadores.

- Quase pleno emprego

Esticando a conversa: Fim da jornada 6x1: Diminuição da jornada de Trabalho: São mais de 200 milhões de pessoas, segundo a Organização Internacional do Trabalho, gostariam (e necessitam) de trabalhar, mas não encontram quem as emprega e lhes queira pagar um salário.

Não são raros os casos de trabalhadores cuja motivação maior consiste em trabalhar alongando ao máximo possível as jornadas de trabalho, para satisfazer os desejos desenfreados de consumo.

Até porque, em sociedades exacerbadamente individualistas, oferece algum consolo para levar adiante uma vida alienada.

O Papa João Paulo II já havia alertado para a estreita vinculação entre o consumismo e a questão ambiental: “o homem, tomado mais pelo desejo do ter e do prazer, do que pelo de ser e de crescer, consome de maneira excessiva e desordenada os recursos da terra e da sua própria vida”

Este Deus “que trabalha sempre” (Jo 5, 17) é o mesmo Deus que também descansou no sétimo dia da Criação (Gn 2, 2). Essas duas coisas não se contradizem. O descanso de Deus revela-se como dimensão fundamental da realidade do trabalho. Isto é “o repouso não é o não trabalho. Pelo contrário, ele é condição humana indispensável [...] o repouso também é ‘produtivo’, ou seja, ele produz vida, também é uma forma que honra a dignidade da vida humana e de toda a criação, combatendo, entre outras coisas, a exploração e a idolatria produtivista”.

Aumento dos programas sociais:

Renda básica universal e justiça distributiva

No livro-entrevista “Vamos Sonhar Juntos” (FRANCISCO, 2020a) (em uma única página – 143), Francisco traz uma reflexão extremamente lúcida sobre as razões que o levam a defender uma renda básica universal. Por isso, vamos nos deter brevemente nestas razões.

1) Possibilidade de rejeitar trabalhos precários: “A renda básica universal poderia redefinir as relações no mercado laboral, garantindo às pessoas a dignidade de rejeitar condições de trabalho que as aprisionam na pobreza”. Em não poucos casos os trabalhadores suportam as condições indignas de trabalho simplesmente porque precisam dele pela remuneração que aufere. Em tantos outros, precisam aceitar um trabalho que remunera mal porque são movidos a isso pelo aguilhão da fome. Na visão de Francisco, uma renda básica universal poderia tornar essas pessoas mais criteriosas na escolha dos trabalhos e, assim, recuperar sua dignidade.

2) Segurança: “Daria aos indivíduos a segurança básica de que precisam, eliminando o estigma do seguro-desemprego, e facilitaria a mudança de um trabalho para outro, como cada vez mais os imperativos tecnológicos no mundo trabalhista exigem”. De modo geral, o desemprego é vivido pelos pobres como um tempo de muita insegurança em relação ao futuro e, por isso mesmo, marcado pela angústia, porque não conseguem

minimamente se planejar. Além disso, os pobres são aqueles que mais sofrem com a alta rotatividade no trabalho, podendo, com uma renda universal, escolher mais facilmente mudar para um trabalho melhor.

3) Exercício de atividades sem fins lucrativos: “Políticas como essa também podem ajudar as pessoas a combinar tempo dedicado a trabalho remunerado com tempo para a comunidade”. Francisco está convencido de que com uma renda universal, as pessoas, tendo garantida minimamente sua sobrevivência, estão abertas a realizar uma série de atividades sem fins econômicos, mas sociais, podendo o trabalho ser criador de relações sociais (GORZ, 2004).

4- Quais são as esperanças? Qual é a Utopia?

Respostas - Termos condições de trabalho atrativas ao jovem (isso passa obrigatoriamente pela discussão do fim da jornada 6x1) e uma remuneração adequada e compatível com o trabalho exercido pela classe trabalhadora, que poderia ter como ponto inicial em Ubá a adoção da participação dos lucros, já previsto em Lei.

- Que haja mais valorização do trabalhador com efetivas políticas de defesa e recuperação do trabalho e direitos sociais. Regulamentação do emprego informal e adoção de iniciativas focadas no bem estar do trabalhador e na sustentabilidade.

- A esperança e a utopia... é que os operários tomem consciência de que é a mão do trabalhador que realmente move a economia dessa cidade. Que um sindicato forte assuma o papel de mostrar isso.

- Que tenha mais equilíbrio entre capital e trabalho

5 - Comentário Livre

Respostas - É urgente e necessário o trabalho de base junto a classe trabalhadora a fim de manter a missão e o compromisso de organizar a classe trabalhadora e lutar contra o desemprego, a informalidade e a precarização. Além disso, engajar e conscientizar os cidadãos para eleger representantes que tenham comprometimento com a promoção da vida e de condições dignas de trabalho para todos.

- A esperança é que os trabalhadores e trabalhadoras sejam respeitados e valorizados. Podendo assim terem vidas dignas e felizes.

- Tenho uma preocupação com o poder que a internet tem exercido em desmobilizar as pessoas de se engajarem na luta por seus direitos. Agora há muita militância de grupo de zap e pouco engajamento presencial e pouco comprometimento com as causas das pessoas mais simples.

- Muitos empresários ainda culpam o bolsa família pela falta de trabalhadores

Esticando a Conversa: Segundo o Jornal o Globo, em 2024, quase oito em cada dez vagas no mercado de trabalho foram ocupadas por beneficiários do Bolsa Família, segundo um levantamento feito Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome (MDS). O programa conta com a Regra de Proteção, que permite a permanência do benefício por um período de transição, mesmo após a conquista de um emprego.

A Regra de Proteção foi criada em 2023 para que famílias que tenham um aumento de renda possam continuar recebendo o Bolsa Família por um período de até dois anos, desde que sigam dentro de determinados critérios de renda.

Caso o novo trabalho faça a renda familiar por pessoa aumentar até meio salário mínimo (R$ 709), o titular do Bolsa Família ainda recebe, por até dois anos, 50% do benefício. Essa regra foi criada para evitar que o titular perca o auxílio de uma vez ao conseguir um emprego, garantindo mais segurança financeira até que se estabilize.

O Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) registrou a criação de 1.693.673 empregos em 2024. Desses, 98,87% foram ocupados por pessoas cadastradas no Cadastro Único, sendo que 75,5% (1.278.765 empregos) foram preenchidos por beneficiários do Bolsa Família.

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