Santos Dias da Silva: 30 de outubro de 1979 - memória dos 42 anos do martírio

Neste 30 de outubro de 20celebramos 42 anos do martírio do Operário Metalúrgico Santo Dias da Silva. Santo Dias foi assassinado em 30 de outubro de 1979 em frente à fábrica Silvana em Santo Amaro - SP. Foi covardemente baleado pela polícia enquanto cumpria as resoluções da Assembleia da categoria metalúrgica.




                    Mártir - Significado:



De acordo com o vocabulário da Teologia Bíblica, Mártir significa testemunha, seja em termos históricos, jurídicos ou religiosos. Na tradição cristã, aplica-se o termo exclusivamente àquele que doou a sua vida e derramou o  sangue por fidelidade à causa de Jesus Cristo, Ele mesmo um mártir que sofreu um dos piores martírios, o da morte na cruz.

Na História da Igreja, desde os tempos mais remotos das primeiras comunidades cristãs, passando pela época medieval, e chegando aos tempos modernos, conta-se às centenas e até aos milhares o número de mártires. Em geral são pessoas que, por um lado, se indignam e se insurgem contra os tiranos ou, por outro, defendem até às últimas consequências os mais débeis e indefesos. Por isso deixaram suas pegadas gravadas a sangue vivo na história da humanidade.

Boa parte deles é lembrada anualmente na liturgia católica, como Santo Estevão, Santa Perpétua e Felicidade, São Pedro e São Paulo. Outros, embora ainda não constem no calendário litúrgico, estão para sempre presentes na memória do povo cristão, como é o caso de Dom Oscar Romero, Ir. Dorothy, Margarida Alves, Chico Mendes, Santo Dias da Silva, e tantos outros. Aliás, o continente latino-americano, ao longo de sua trajetória de lutas, tem sido palco de inúmeros testemunhos de entrega e doação total, em prol da justiça, da verdade e da paz.

Quem foi Santo Dias da Silva.

Sai da tua Terra e vai, onde te mostrarei ( Gn 12,1)

Santo era católico praticante. A fé em Jesus Cristo sempre teve importância fundamental em sua vida. Ainda em Terra Roxa, interior de São Paulo, Santo pertencia à Legião de Maria e à Congregação Mariana. Quando mudou para São Paulo, continuou na Legião de Maria, acompanhando com profundo interesse a renovação da Igreja. Membro da Paróquia da Vila Remo, foi ministro da Eucaristia, iniciador da sua comunidade de Santa Margarida, além de ter colaborado na fundação da comunidade do Jardim Alfredo. Foi membro atuante da Pastoral Operária, representando os trabalhadores na Comissão Provincial de São Paulo da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB).

Santo conheceu sua esposa Ana em uma fazenda no município de Terra Roxa, onde trabalhava como lavrador e meeiro. Por exigir melhores condições de trabalho, sobretudo carteira assinada, foi expulso da fazenda, tendo que migrar para São Paulo. Era fevereiro de 1965. Chegando na cidade grande foi logo trabalhar na Metal Leve como metalúrgico. Logo se sindicalizou e começou sua militância no sindicato. Casado com Ana, ele teve dois filhos: o Santin Lucina.  

Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o reino dos céus. (Mt 5,10)

A partir de então a luta de Santo se dava na Igreja e na oposição sindical. Nesse período vivíamos no Brasil sob a ditadura militar instalada no País após o golpe de 1964. O governo reprimia, torturava e matava todos(as) aqueles  que se opunham ao sistema. Artistas, estudantes, professores , operários, padres  e freiras eram com frequência interrogados e presos arbitrariamente.

O sindicalismo brasileiro no ano de 1979 começa a ressurgir, após longos anos de peleguismo e traição aos trabalhadores. Com uma história marcante de avanços e recuos, perseguições e vitórias, o sindicalismo começou a retomar seu caminho Naquele ano, os metalúrgicos de São Paulo decidiram, no dia 28 de outubro, iniciar uma greve geral por melhores condições de trabalho. Mas mesmo antes da greve ser iniciada, diversas subsede do Sindicato já haviam sido invadidas pela Polícia Militar de São Paulo. O governador de São Paulo era Paulo Maluf, indicado pelo governo militar ao Palácio Bandeirantes.

Na tarde de 30 de outubro de 1979,cerca de quarenta metalúrgicos foram à porta da fábrica Silvânia, em Santo Amaro. Dois dias antes, porém líderes metalúrgicos haviam sido presos na subsede do Sindicato em Amaro. No dia seguinte, segunda-feira, 29 de outubro, Santo estava ajudando a organizar a greve, participando de reuniões etc. O Clima não era dos mais tranquilos, pois as prisões do dia anterior tinham sido um golpe contra a greve.

Os sindicalistas ficaram na entrada da Silvania, fazendo piquete e conversando com os metalúrgicos ainda indecisos. Distribuíram folhetos, pedindo que parassem de trabalhar. Nisto chega policia  militar. As viaturas cercaram a rua. Os metalúrgicos haviam decidido, pouco antes de seguirem para a porta da Silvânia, que não enfrentaram a polícia, sob qualquer pretexto, e que  em momento algum aceitariam provocações dos PMs, que certamente surgiram.

Os policiais, violentos, começaram a provocar os metalúrgicos. A situação estava ficando tensa, muito tensa. Os metalúrgicos conversavam entre si e decidiram ir embora, a fim de evitar confronto com a PM. Os soldados estavam armados.

Muito tensos, os operários foram surpreendidos com a chegada de mais duas Tático Móvel e uma Rádio Patrulha, com suas sirenes ligadas. Os policiais saltaram do carro ainda  em movimento, já de armas nas mãos, como feras de garras afiadas.

Vicente grita: "vamos embora". E tenta furar o cerco. É agarrado por dois PMs, os outros operários também tentam libertá-lo. Os policiais começam a agredi-los com socos e pontapés. Alguns reagem. Enquanto brigam, Vicente, puxado por Santo, consegue se soltar e começa a correr. Mas um PM passa-lhe uma rasteira e ele cai. Outros operários correm e um deles, Manoel Soares, é preso.

Não existe amor maior que do que dá a vida pelos amigos (Jo 15,13)

Caído sobre a cerca, do lado oposto da portaria da Silvania, um operário vê quando um PM, que se encontrava próximo, perto de um poste, dá um tiro para o alto Depois ouve-se outros tiros, saídos do meio da rua. Todos correm Santo também. E tinha corrido menos de dois metros quando é atingido na barriga do lado esquerdo, por um PM. Vicente Garcia apanhava seus documentos, espalhados pela rua quando foi agredido, e vê Santo, a cerca de seis metros, já cambaleando, com a mão ensanguentada, sobre a barriga. A operária Celia Maria, que conseguiu fugir do cerco, olha para trás e ouve um grito profundo e longo. Sem forças, Santo cai sentado, perto de um poste, em frente a um dos boxes do estacionamento da diretoria da Peterco. E tomba.

Naquela noite o corpo foi para a Igreja da Consolação, onde ficou sendo velado. Havia muita, muita gente. A igreja estava lotada. Amigos, sindicalistas, religiosos, gente que o admirava, e gente desconhecida, que queria apenas manifestar sua dor e indignação, e ajudar a tecer a grande rede de solidariedade, indispensável em momentos dolorosos.

Felizes os que trabalham pela paz porque serão reconhecidos como filhos de Deus. (Mt 5,9)

Santo tinha vários compadres: Raimundo Perillat, que conviveu com santo muitos anos, fala sobre a maneira de trabalhar do  amigo. Santo estava em constante diálogo com todos, independente da visão das pessoas, da consciência religiosa ou política que demonstravam. Era um vizinho muito querido, e tinha vários compadres. Eram pessoas que lhe procuravam para fazer a declaração de imposto de renda ou a orientação no emprego ou em causa trabalhista. Sempre tinha tempo, paciência e preocupação para ouvir e conversar com as pessoas, na rua, no sindicato, dentro do ônibus. Era amigo acima de todos.

Na Missa de corpo presente o Cardeal Arns disse que não é certo que a violência arme a mão de outro pobre para terminar com a vida de santo. Não é certo que andem armados, policiais que vão encontrar com o povo brasileiro. Não é certo que haja dois pesos e duas medidas, uma para o patrão e outra para o operário. Participaram todos os Bispos da Arquidiocese de São Paulo.  

Santo está enterrado na quadra 38, cova número 1,  do cemitério de Campo Grande em Santo Amaro sob o túmulo  uma placa com os seguintes dizeres: Santo Dias da Silva - Operário Cristão - 22/2/1942 e 30/10/1979. Foi assassinado pela polícia militar na luta pelo povo oprimido. Santo: na força de sua memória faremos justiça. Anualmente, nesta data, a Pastoral  realiza celebrações por todo o País, com destaque para a frente da Fábrica Silvânia e no Cemitério de Campo Grande.


40 anos da morte de Santo Dias, operário, assassinado pela ditadura


SANTO DIAS DA SILVA, 41 ANOS DE MARTÍRIO (30/10/1979 A 30/10/2020)

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