HOMILIA DO PADRE SILAS GERALDO NA MISSA DO DIA PRIMEIRO DE MAIO DE 2107 NO BAIRRO DA LUZ
Membros da Pastoral Operária de Nossa Paróquia, a tanto tempo
oculta, mas firmes e perseverantes na luta; vocês são para nós orgulhosamente
sinal de resistência e fé no Deus da vida!
Irmãos e irmãs
O dia dos trabalhadores evoca a luta heroica pela jornada de
oito horas de trabalho acontecida em Chicago, no primeiro de maio de mil
oitocentos e oitenta e seis quando por um atentado simulado a justiça executou
quatro operários condenados e sentenciou três a prisão perpétua sem o devido
processo legal. Nos anos que se seguiram, a solidariedade internacional pressionou
o governo americano que, elegendo um
novo júri, reconheceu a inocência dos trabalhadores, condenou o estado, e
decretou o dia primeiro de maio com um dia de luto e um dia de luta. Em mil
oitocentos e noventa, os trabalhadores conseguiram a redução de quatorze para
oito horas de trabalho.
No Brasil, esta luta teve seu marco em mil novecentos e
quarente e três quando se consolidou a legislação
que protege e tutela os direitos do trabalho. Vale a pena fazer memória do
surgimento, crescimento e fortalecimento dentre tantos grupos católicos de serviço
social da Pastoral Operária, que a partir da década de sessenta enfrentou com
sabedoria períodos obscuros da ditadura militar derramando suor e sangue na
luta pelo direito e dignidade dos trabalhadores e trabalhadoras. Dentre os
vários Mártires destes tempos dois merecem honrosa menção: Pe. Agostinho Preto
e Santo Dias da Silva. Entristece-nos, porém, o fato de todas as conquistas
alcançadas com suor e sangue de muitos irmãos e irmãs do povo simples e
trabalhador estão em perigo de desaparecer. É que não se viu, desde mil novecentos e
quarenta e três um ataque tão virulento e sistemático, que com a promessa de
flexibilização diz poder ampliar posto de trabalho, tem imposto sem escrúpulo a
agenda neoliberal, o fim da segurança, empregabilidade e os princípios mais
claros da justiça trabalhista, quais sejam: a prioridade do trabalho sobre o
capital, a irrenunciabilidade dos direitos sociais e a tutela dos mais fracos
diante da desigualdade imposta pelo dinheiro. Criam-se as figuras do trabalho
intermitente, “part time”, horista, terceirizado, sem vinculo e nem proteção,
deixando a negociação por si dissimétrica a cargo do consenso das partes.
Quebra-se o pacto social civilizatório que mantinha o marco regulatório que
servia ao bem comum, uma vez que colocava limites a torpe ganância e ao lucro
predador.
Num olhar minucioso e profundo sobre a história da salvação
nota-se que nunca foi fácil o caminhar do povo. Hora vítima da maldade humana,
hora vítima do próprio pecado, o povo sempre sofreu, foi perseguido,
escravizado, exilado. Deus nunca se furtou à necessidades do povo. Com sua
palavra e com seus profetas e servidores sempre atuou e incentivou o povo a crescer
num caminhar de libertação. A palavra escolhida pela equipe para iluminar a
nossa reflexão nesta manhã desenha claramente o rosto misericordioso de um Deus
que não fica adormecido mediante o sofrimento do seu povo. No evangelho de
Mateus, a parábola dos talentos nos recorda que todos sem exceção somos por
natureza servidores. O que serve multiplica talentos, o não serve o enterra no
campo. O servir abre portas do paraíso, fechadas pelo pecado de Adão e Eva.
Servo bom e fiel, como fostes fiel no pouco, venha participar da alegria plena
do teu senhor! Ao que guardar o seu talento e não coloca a serviço, o senhor é
severo na punição. Não há justificativa no não servir. Guardar o talento na
terra e se eximir do compromisso com a criação; é deixar acontecer; é permitir
ser assaltado, lesado, engando. Não servir é se tornar cumplice do mal. Na
direção convoca São Tiago na primeira leitura.
A doutrina social da igreja, pensada a partir do Evangelho é,
como sempre, inequívoca; Clara nas suas opções e princípios. “o trabalho deve
ter salário digno, que permita sustentar
a sua família e ter acesso à prioridade, participação nos rendimentos e nas
decisões, lembrando o destino universal dos bens e a função social que hipoteca
e onera todo empreendimento financeiro e
econômico”. É verdadeiramente míope trazer de volta o capitalismo selvagem,
pois se reduz o mercado interno e se inviabiliza o verdadeiro desenvolvimento
humano, integral, solidário e sustentável. As reformas que estão em pauta não
são um salto para o futuro, mas um regresso aos piores tempos da exploração quando
o “exercito de reserva dos desempregados” baixava os salários e as condições de
trabalho ao cruel nível da sobrevivência e da total precariedade.
É olhando para o governo golpista e usurpador do Brasil;
olhando para os nossos representantes políticos atolados até o pescoço no mar
da corrupção e preocupados e defender leis direitos em detrimento de si
próprios; olhando para o povo corrupto desde as bases, dividido,
fundamentalista e desmotivado que não luta mais que o senhor repete: “ Chorai e
gemei por causa das desgraças que estão para cair sobre vós” e dirá ainda mais:
“ quanto a este servo inútil, lançai-o fora, nas trevas, onde haverá choro e
ranger de dentes”.
Para encerrar que lembrar os discípulos de Emaús. Decepcionados
e desiludidos voltaram para casa triste e abatidos. Jesus caminha e dialoga com
eles explicando-lhes e encorajando-os; eles não o reconheceram. Entrando em
casa o reconheceram ao partir o pão. A casa, outrora lugar de fuga e
esconderijo se torna lugar de renovação das forças e de partida: retornam a
Jerusalém, se unem à comunidade e partilham juntos as alegrias da ressureição.
Hoje, e em cada Eucaristia que celebramos somos convidados a continuar a
reconhecer o Senhor que caminha conosco. Que ao reconhecê-lo, possamos sair de
nosso pessimismo e de nossas fugas e nos juntarmos à comunidade para na luta,
partilhando os nossos sonhos, lutas, dores e esperanças. Com Jesus, junto como
irmãos, somos convocados, principalmente neste tempo a fazermos também nossa
pascoa.
LOUVADO SEJA NOSSO SENHOR JESUS CRISTO.