A superação da violência passa pela superação da desigualdade.
A superação da violência passa pela superação da
desigualdade.
Jardel Lopes¹

Há três principais motivações para a igreja propor
esse tema em discussão com a sociedade: (i) os índices de violência:
o Brasil é responsável por 13% da taxa de homicídios no mundo. Isso representa
quase 60 mil assassinatos por ano [59.627 mortes em 2014 – dados do
Ipea]. Nesse índice há um destaque para o feminicídio [enquanto a taxa
homicídios de homens é de 8%, o de mulheres é de 17%. (ii) o aumento
dos aparatos de segurança privada: as pessoas fazem de tudo para protegerem
suas casas, com cercas, muros altos, alarmes, seguranças particulares. Com isso
cresce a indústria bélica no Brasil. Somente em 2014 movimentou mais de 200
bilhões [4% do PIB]. Por outro lado, a bancada sustentada [eleita] pela
indústria do armamento [bancada da bala] corresponde aproximadamente a 30% dos
parlamentares brasileiros]. (iii) o isolamento da sociedade: o medo
do outro e da outra que aparece diferente na rua, faz com que o individualismo
tome posse cada vez mais das pessoas, o fechamento no “seu mundo”, fortalecendo
ainda mais o preconceito [sobretudo em relação à cor negra], estigmatizando os
territórios periféricos [favelas], bem como afetando a dimensão da
comunitariedade, a cultura do encontro, o que para os cristãos é parte da sua
essência.
A igreja
nos aponta ainda para questões estruturais da violência. Classifica como institucional, aquele
tipo de violência que não é visível pela agressão direta, mas, que se sustenta
por meio dos processos de organização da sociedade, como por exemplo: o modo de
produção [relação capital X trabalho], as relações sociais, o modelo de
justiça, o sistema de corrupção, a desigualdade socioeconômica, entre outras.
Enfim, toda violação gera uma violência. E nossos sistemas político e econômico
são os maiores violadores de direitos no Brasil [por meio de sonegação de
impostos, negação de direitos, não distribuição de renda, escravização,
preconceito, etc].
A violência do mundo do trabalho passa
pelas condições insalubres, condições análogas à escravidão, salário baixos e
jornadas exaustivas, acidentes de trabalho, a disparidade salarial entre homens
e mulheres; e o modo institucionalizado é a terceirização, a reforma
trabalhista recente, o desemprego. Portanto, a violência do mundo do trabalho,
seja o modo de produção ou o mercado, é parte constitucional da violência
estrutural, ou institucionalizada. E a superação da violência passa de certa
forma pela superação da desigualdade social, da desigualdade de classe, visto
que a classe trabalhadora é explorada/violentada e a classe patronal, burguesa,
o mercado financeiro, são protegidos, concentram riquezas, exploram, e ainda
tem toda estrutura do estado do seu lado. Deste modo, outra característica é a
violência cultural, a qual naturaliza/legitima processos de
violência, de modo a culpabilizar a vítima pela agressão sofrida.
Por fim, a superação da violência tem a ver com a superação do modelo do
sistema econômico e político, a superação desigualdade social, racial, gênero e
de classe [os pobres, negros e mulheres são quem mais morrem]. Deste modo, a CF
é uma oportunidade/convite em comunhão/unidade com o Papa Francisco que nos
interpela: “pode-se entender o pedido de Jesus aos seus discípulos:
«Dai-lhes vós mesmos de comer» (Mc 6,37), que envolve tanto a cooperação para
resolver as causas estruturais da pobreza, promover o desenvolvimento integral
dos pobres, como os gestos mais simples e diários de solidariedade para com as
misérias muito concretas que encontramos”. (...) A desigualdade é a raiz dos
males sociais”. (EG, 188; 202).
A superação da violência exige de todas as pessoas de boa vontade, o esforço
para superar as causas estruturais da desigualdade. A luta pela efetivação de
políticas públicas, a garantia do acesso ao direito, a construção de novos
direitos, a criação de alternativas de trabalho, passam pela organização
popular, pelo trabalho em rede, e o sonho da construção de um mundo junto.
1. Na
região ou estado quem são os/as parlamentares que representam a indústria do
armamento?
2.
Os lugares onde concentram os principais alvos da violência em sua região, tem
acesso a todas as políticas públicas de direito?
3. Que
organizações sociais você conhece que lutam pela superação das causas
estruturais da desigualdade?