Renovando compromissos - Celebração na Comunidade Rainha da Paz

“Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). Este era o lema que a Irmã Marisa adotou para a sua vida religiosa.  Nos momentos de partilha ou revisão de vida, nos grupos da Pastoral Operária, Ela sempre dizia que após impactada pelas resoluções do Concílio Vaticano II e das Conferências Episcopais Latino americanas de Medellín e Puebla, solicitou a autorização da Congregação e do Bispo Dom Reis, da Diocese de Leopoldina, para transferir  a sua atuação do colégio para  evangelizar meio dos pobres.

Foi fixar residência no Bairro São Domingos para aproximar da realidade das comunidades e principalmente das pessoas que lá moravam. Os encontros das Comunidades Eclesiais de Base eram realizados na capela do Bairro São Domingos. Tudo que se refletia e vivenciava nos grupos de CEBs da região era partilhado e celebrado mensalmente nas tardes de domingo sob a animação a Irmã Mariza: Reflexão do Evangelho, cantos, partilha da vida e partilha da merenda que os participantes levavam. 


Nos meus primeiros anos na Pastoral Operária, nos anos 80, refletimos nas comunidades o Documento 40 CNBB: Igreja: Comunhão e Missão na Evangelização dos Povos, no Mundo do Trabalho, da Política e da Cultura. Em anos anteriores, as CEBs, os Leigos , a juventude e a reforma da constituição, todos estes assuntos  já haviam sido  tema da Assembleia Geral da CNBB com  as consequentes repercussões na base da Igreja no Brasil. 


Pra mim, na medida que foi crescendo no entendimento, fui capaz de reconhecer a aplicação do Documento 40 na nossa vivência e prática cristã, católica em Ubá, e porque não dizer na Diocese de Leopoldina, e muito em razão da abnegação da Irmã Marisa que literalmente colocava o Pé no barro para motivar a nossa formação e participação dos leigos, na igreja, no grupos de jovens, nas associações, nos sindicatos e na política.


Contextualizar a situação dos Bairros: A Irmã Marisa animava grupos da Pastoral Operária nos bairros São Domingos, Vila Casal, Bairro da Luz e Agroceres, Bairro Meu Sonho e Bairro Eldorado. As reuniões eram semanais, cada dia num bairro, e o seu deslocamento era de ônibus. Fazia questão de chegar mais cedo no bairro para visitar as famílias  de cada um dos membros dos grupos antes das reuniões. Segundo a Dorinha, Ela distribuía as tarefas no grupo e deixava em cada casa uma coisa, (livro de presença, folha de canto, garrafa de café)  para que todos tivessem o compromisso de não faltar às reuniões.  Uma vez quando Ela estava indo para a minha casa na vila casal foi mordida por uma cadela no caminho. Lavou o local com água e sabão, participou da reunião que aconteceu na casa do seu Pedrinho - Pedro de Paula Pacheco - e só foi ao hospital após a reunião.  


Se preocupava com todos. No início de qualquer atividade, fazia parte da sua metodologia, partilhar sobre a vida dos participantes: Como está no trabalho? Como estão os filhos? Como está a sua esposa ou o seu marido? e sobre as lutas? Também não podia faltar os cantos:  Seus preferidos: o Magnificat. “Virá o dia em que todos ao levantar a vista veremos nesta terra reinar a liberdade" ... e Momento Novo “ Quando espírito de Deus soprou o mundo inteiro se iluminou”....O convite para os encontros era através de carta nominal a cada um dos participantes, entregue em mãos. 


E  tinha os telefonemas para confirmar. Quem não tinha telefone em casa, a maioria, recebia o recado através dos telefones dos vizinhos. Os grupos da Pastoral Operária eram espaço privilegiado de formação Humana, Eclesial, Bíblica, Sindical, Política etc, e aos domingos além das celebrações, aconteciam os encontros para reforço da formação e das partilhas diversas. Foi muito importante na nossa vida conhecer a história do povo de Deus através dos cursos realizados na Igreja do Divino Espírito Santo de Ubá. A História do Povo de Deus, visão geral da Bíblia, profetismo, Jesus seu povo e sua proposta. Irmã Marisa fazia questão de dizer repetidas vezes o quanto ela aprendia com o povo. 


Foi imprescindível a colaboração da Irmã Marisa para a organização das associações comunitárias em Ubá. Hoje são mais de 40 associações autônomas e organizadas em uma Federação - FEMAC que está em congresso neste final de semana. Muitas das lideranças formadas neste processo de nucleação das pastorais sociais ocupam lugar de destaque nas associações e consequentemente nos conselhos de Políticas Públicas de Ubá. 


Irmã Marisa também contribuiu efetivamente para a fundação dos sindicatos dos professores, dos marceneiros; dos servidores públicos municipais e dos comerciários. No ano de 2003 a Federação das Associações Comunitárias dos Bairros e Distritos de Ubá - FEMAC criou o Título Imã Marisa Costa Mulher Cidadã, para reconhecer e estimular mulheres que atuam no movimento popular, comunitário e promovem ações de cidadania. A entrega do Título acontece sempre na semana do dia 08 de março.


O Papa Francisco no documento Evangelii Gaudium, documento de apresentação das  ideias-chaves para o pontificado,  denuncia as desigualdades sociais como um gravíssimo problema da atualidade. Ele diz que a exploração do trabalho configura-se como uma das principais causas da desigualdade e da exclusão social. Para o Papa Francisco “Não existe pior pobreza material do que aquela que não permite que se ganhe o pão e priva da dignidade do trabalho” (FRANCISCO, 2015b, p. 11). Há, pois, algo pior do que não ser “explorado”; é ser excluído, ser resíduo, ser “sobra”, “descartável” (EG 53). 


Para o Papa Francisco “O trabalho é o centro de todo pacto social” O Papa (FRANCISCO, 2017b), reafirma, retomando o ensinamento de João Paulo II expresso na Laborem Exercens. Que o trabalho não é apenas um meio para garantir a sobrevivência biológica de quem o executa, ou de dar vazão a todos os desejos de consumo, mas é uma parte essencial da existência. “o trabalho humano é uma chave, provavelmente a chave essencial, de toda questão social”. 


Mais uma vez retornamos ao lema da vida religiosa da Irmã Marisa para entender porque é imprescindível a continuidade de sua missão no meio de nós.  “Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância” (Jo 10,10). É o último versículo do Evangelho de João 10,1-10. A Bíblia de Jerusalém diz que é o Evangelho do Bom Pastor. São de conhecimento comum as imagens mostrando Jesus como o Bom Pastor. Cumpre a nós assumir a continuidade desta missão de Jesus, entregando a nossa vida na luta diária para a criação de uma sociedade mais justa e humana, portanto divina. Somente assim seremos fiéis àquele que veio “para que todas as pessoas tenham a vida e a tenham em abundância”. 


A exemplo de Jesus,  a Irmã Marisa nos ensinou que a fé exige participação social, e engajamento nas lutas contra a destruição dos direitos dos trabalhadores e por uma vida plena para todas as pessoas. Pois foi assim que Ela viveu, ou seja, gastou parte do seu tempo e da sua vida na evangelização no mundo dos trabalhadores(as). 


Renovando Compromissos: Nós membros da Pastoral Operária e demais participantes dos movimentos populares e sociais aqui presentes, ou que não puderam estar presentes, mas que estão em comunhão com esta celebração, queremos renovar o nosso compromisso. 


A Exemplo da Irmã Marisa queremos permanecer  nas bases: Bases são os grupos de solidariedade pessoal (família, vizinhança, igreja, de amizade, de trabalho, associação por afinidade e outros) e dedicar-se ao trabalho direto, pessoal, para fazer conscientização e organização. onde as relações pessoais se revestem de laços afetivos. É deste modo que a Irmã Marisa continuará viva, formando-nos e encorajando-nos para a caminhada.


Grupo de Base da Pastoral Operária 

Criado pela Irmã Marisa em 1986

Bairro da Luz e Agroceres 

Reuniões na segunda e quarta terça-feira do mês

Ás 19:30 na Rua Curitiba




Ubá, 28 de novembro de 2021


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